Vladimir palmeira- [ É difícil reproduzir o que foi o espírito de 68, mas pode-se dizer que havia uma poderosa força simbólica impulsionando a juventude, representada pela guerra do Vietnã, os Beatles, a revolução sexual, Che Guevara, as guerras de libertação da África. O mundo parecia estar explodindo. Na política, no comportamento, nas artes, na maneira de viver e de encarar a vida, tudo precisava ser virado pelo avesso. O movimento estudantil era um verdadeiro assalto aos céus! ]
Nota, me: Hoje o mundo está conservador, o sentimento predominante é outro. Nesse fim de século a humanidade ainda não conhece um modelo de sociedade diferente, alternativa. Há uma profunda consciência das desigualdades, a violência está chegando a um limite intolerável, sente-se uma enorme aversão às instituições porque elas não correspondem às expectativas dos jovens. As idéias de direitas são hegemônicas. Vivemos num mundo das eleições, dos sistemas políticos, da alternância de partidos no governo, dos blocos sociais.
Vladimir palmeira: [O jovem de hoje se debate por um lugar ao sol, luta por emprego, por espaço na cultura, na política, na economia. A vida é muito mais dura, ele tem poucas esperanças e vê o futuro com temor. Apesar disso, encontro uma enorme força na juventude. basta ver como é capaz de produzir magníficas manifestações artísticas, ou, por um lado, como é capaz de sobreviver ao crime- porque é preciso ter muita coragem, mais coragem que a nossa, para sobreviver no crime.
Foi a juventude que fez o movimento das diretas, a campanha do Lula em 89, a luta pelo impeachment do Collor. Não sou nem um pouquinho pessimista em relação a isso; é um fenômeno que faz parte da própria vida. Hoje o movimento dos Sem-Terra é essencialmente jovem. As greves do ABC foram essencialmente jovens. Lula tinha trinta anos de idade, mas a maioria dos seus companheiros não passava muito dos vinte. Claro que são circunstâncias diferentes umas das outras. Enquanto a juventude estudantil 68-69 fez ocupações nas faculdades, logo depois tivemos a juventude de Guariba, no interior de são Paulo, que desenvolveu as primeiras lutas com os trabalhadores rurais na década de 80.
tenho uma expectativa muito grande com relação a essa tendência, porque creio que os jovens vão salvar o Brasil. Sinto que mais uma vez eles estão ocupando o espaço político, há sinais evidentes e muito animadores disso. ]
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