domingo, 30 de março de 2008

Ela bate asas.



O tempo batia as asas. No mundo dela era sempre noite. Mesmo de manhã, o céu permanecia no mais completo breu. Cansada daquela mesmice, passou a questionar os porquês de sua existência e da origem do mundo no qual vivia. Procurava a lógica dos fatos e se perdia em suas próprias explicações. Uma idéia fixa martelava em sua cabeça: precisava sair dali e descobrir se tudo era sempre daquele jeito ou se lá longe, bem distante, haveria uma outra realidade. E pôs-se a caminhar. Todo chão era pouco perto do desejo que a movia. E então chegou numa das pontas do mundo: tudo continuava a ser sempre daquele jeito e lá longe, bem distante, não havia nenhuma outra realidade. Deu a volta e seguiu obstinada. Quanto mais andava mais sentia o tamanhão do mundo. De seus pés brotavam calos. O corpo padecia, descascava, transmutava. E os porquês se tornavam cada vez mais audíveis reverberando nas paredes de seu coração. E no que cruzou o sul, o norte, o leste e o oeste do mundo: tudo continuava a ser sempre daquele jeito... E lá longe, bem distante, não havia nenhuma outra realidade. Quanto mais andava mais sentia o tamanhinho do mundo. Não havia mais pra onde ir e seu corpo também não suportava mais acompanhar o ritmo frenético dos porquês de sua cabeça. A massa corpórea dela padecia, pipocava, inchava. Achou que fosse morrer naquele instante e quando olhou de volta para si foi que percebeu a transformação. O corpo dela havia crescido tanto que já não cabia em seu mundo. Com toda aquela pressão, o céu foi se rasgando vagarosamente até revelar a luz. Em seu novo mundo era sempre dia. Mesmo de noite, as estrelas garantiam uma luminosidade que ela jamais poderia prever enquanto lagarta andante dentro da caixa de sapato. Agora era diferente. Ela batia as asas.

sábado, 29 de março de 2008

Vida regada a idiotice


Gente chata essa que quer ser séria, profunda, visceral. Putz, coisa pentelha! A vida já é um caos, por que fazermos dela, ainda por cima, um tratado?Deixe a urgência para as horas em que ela é inevitável: mortes, separações, dores, etc... No dia-a-dia, pelo amor de Deus, seja idiota. Ria dos próprios defeitos, tire sarro de suas inabilidades. Ignore o que o boçal do seu chefe proferiu. Pense assim: quem tem que carregar aquela cara feia, todos os dias, inseparavelmente, é ele. Pobre dele. E nada pessoal também. Milhares de casamentos acabaram-se não pela falta de amor, dinheiro, sexo, sincronia, mas pela ausência de idiotice. Trate seu amor como seu melhor amigo, e pronto. Quem disse que é bom dividirmos a vida com alguém que tem conselho pra tudo, soluções sensatas, objetivos claramente traçados, mas não consegue rir quando tropeça? Que sabe resolver uma crise familiar, mas não tem a menor idéia de como preencher as horas livres de um fim de semana?

Eu fico chateada por não ser tão idiota quanto gostaria; tenho uma mania horrível de, sem querer, recair na seriedade. Então o mundo fica cinza e cada lágrima ganha o peso de uma bigorna. Nessas horas tudo de que preciso é uma bela, grande e impagável idiotice. Aquelas besteiras que vc sempre solta. rsTudo que é mais difícil é mais gostoso, mas a realidade já é dura; piora se for densa. Aliás, tudo fica bem mais fácil se for regado a idiotice, bom humor e muitas gargalhadas.
;)

Beijos, Evelyn!

quinta-feira, 27 de março de 2008

A idade do céu


"Não somos mais que uma gota de luz
uma estrela que cai
uma fagulha tão só na idade do céu
não somos o que queriamos ser
somos um breve pulsar
que um silêncio antigo com a idade do céu
calma, tudo está em calma
deixe que o beijo dure
deixe que o tempo cure
deixe que a alma
tenha a mesma idade que a idade do céu
não somos mais que um punhado de mar
que uma piada de Deus
um caprinho do sol no jardim do céu
não damos pé entre tanto tic tac
entre tanto big bang
somos um grão de sal no mar do céu
calma, tudo está em calma
deixe que o beijo dure
deixe que o tempo cure
deixe que a alma
tenha a mesma idade que a idade do céu
e era você..
calma, tudo está em calma
deixe que o beijo dure
dexe que o tempo cure
deixe que a alma
tenha a mesma idade que a idade do céu
a mesma idade que a idade do céu
calma, tudo está em calma
deixe que o beijo dure
dexe que o tempo cure
deixe que a alma
tenha a mesma idade que a idade do céu
a mesma idade que a idade do céu
a mesma idade que a idade do céu"

(Zélia Duncan, Simone. Composição: Guizão)

terça-feira, 25 de março de 2008

Um jeito 'Evelyn' de ser




Ela encolhe as pernas quando dorme, e suspira enquanto espalha os cabelos pelo travesseiro. Usa camiseta de político em dia de faxina, e continua linda. Fuma para aliviar a dor, e os cigarros quase sorriem quando se aproxima dos seus lábios vermelhos. Fuma para aliviar a dor que sente de quando tem cólicas, e de quando se sente descartada, desesperada. Quando ele não liga, e quando tem que falar baixo porque é ela que liga. E vai ao supermercado usando salto alto, porque não alcança a última prateleira. E se estica tão graciosamente, que todos podem jurar que a prateleira é tão alta de propósito. Tem cacife pra beber cerveja em taça de vinho, com as unhas pintadas de vermelho. Unhas não; garras. Garra pra enfrentar a dor do parto, e o cesto de roupas sujas. Dança baladas antigas só de sutiã quando está sozinha e não sabe programar o despertador novo, mas acha muita falta de competência um homem não fazer pelo menos três coisas ao mesmo tempo. Conta o resumo do livro em menos de cinco minutos, mas demoram uma vida para se maquiar. Essa Evelyn entende de política, de jantar com sobras do almoço, futebol, sandálias, promoções, Hugo Chavez e blushes. E é lamentando a situação das ondas dos cabelos que ela vos fala, propõe um brinde desejando a igualdade de direitos, e a ausência de pêlos.

Evelyn

quinta-feira, 20 de março de 2008

Sem limites!



Por que não?
Andar descalço pela rua a pé.
Por que não?
Gritar bem alto tudo aquilo que eu quiser.
Me libertar de regras e acontecer.
Porque eu não quero limites pra viver...
Caminhando a favor ou contra o vento
Vou fazer o que me der no pensamento
Decidido a não mudar o que eu sou.
Ter a vida liberada como for

Eu posso até me distrair,
Estar a um passo de errar, mas quero ser livre e chegou a hora de tentar...


"Se você obedece a todas as regras, acaba perdendo toda a diversão"


E bom feriado a todos, que o meu promete ser muuuuito bom!
:)

quarta-feira, 19 de março de 2008

Cheirinho de Deus



Tem gente que tem cheiro de passarinho quando canta.
De sol quando acorda.
De flor quando ri.
Ao lado delas, a gente se sente no balanço de uma rede...Que dança gostoso numa tarde grande, sem relógio e sem agenda.
Ao lado delas, a gente se sente comendo pipoca na praça.
Lambuzando o queixo de sorvete.
Melando os dedos com algodão doce da cor mais doce que tem pra escolher.
O tempo é outro.
E a vida fica com a cara que ela tem de verdade, mas que a gente desaprende de ver.
Tem gente que tem cheiro de colo de Deus.
De banho de mar quando a água é quente e o céu é azul.
Ao lado delas, a gente sabe que os anjos existem e que alguns são invisíveis.
Ao lado delas, a gente se sente chegando em casa e trocando o salto pelo chinelo.
Sonhando a maior tolice do mundo com o gozo de quem não liga pra isso.
Ao lado delas, pode ser abril, mas parece manhã de Natal do tempo em que...A gente acordava e encontrava o presente do Papai Noel.
Tem gente que tem cheiro das estrelas que Deus acendeu no céu e daquelas...Que conseguimos acender na Terra.
Ao lado delas, a gente não acha que o amor é possível, a gente tem certeza.
Ao lado delas, a gente se sente visitando um lugar feito de alegria.
Recebendo um buquê de carinhos.
Abraçando um filhote de urso panda.
Tocando com os olhos os olhos da paz.
Ao lado delas, saboreamos a delícia do toque suave que sua presença sopra...No nosso coração.
Tem gente que tem cheiro de cafuné sem pressa.
Do brinquedo que a gente não largava.
Do acalanto que o silêncio canta.
De passeio no jardim.
Ao lado delas, a gente percebe que a sensualidade é um perfume...Que vem de dentro e que a atração que realmente nos move...Não passa só pelo corpo.Corre em outras veias.Pulsa em outro lugar.
Ao lado delas, a gente lembra que no instante em que rimos Deus está conosco, Juntinho ao nosso lado.
E a gente ri grande que nem menino arteiro.
Tem gente como você que nem percebe como tem a alma Perfumada!E que esse perfume é dom de Deus.Como é maravilhoso ter amigos...
Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 17 de março de 2008

Às vezes é preciso recolher-se




Sou dos escritores que não sabem dizer coisas inteligentes sobre seus personagens, suas técnicas ou seus recursos. Naturalmente, tudo que faço hoje é fruto de minha experiência de ontem: na vida, na maneira de me vestir e me portar, no meu trabalho e na minha arte. Não escrevo muito sobre a morte: na verdade ela é que escreve sobre nós - desde que nascemos vai elaborando o roteiro de nossa vida. O medo de perder o que se ama faz com que avaliemos melhor muitas coisas. Assim como a doença nos leva a apreciar o que antes achávamos banal e desimportante, diante de uma dor pessoal compreendemos o valor de afetos e interesses que até então pareciam apenas naturais: nós os merecíamos, só isso. Eram parte de nós. O amor nos tira o sono, nos tira do sério, tira o tapete debaixo dos nossos pés, faz com que nos defrontemos com medos e fraquezas aparentemente superados, mas também com insuspeitada audácia e generosidade. E como habitualmente tem um fim - que é dor - complica a vida. Por outro lado, é um maravilhoso ladrão da nossa arrogância. Quem nos quiser amar agora terá de vir com calma, terá de vir com jeito. Somos um território mais difícil de invadir, porque levantamos muros, inseguros de nossas forças disfarçamos a fragilidade com altas torres e ares imponentes. A maturidade me permite olhar com menos ilusões, aceitar com menos sofrimento, entender com mais tranqüilidade, querer com mais doçura. Às vezes é preciso recolher-se.
Evelyn.

quinta-feira, 13 de março de 2008

E eu dizia.


Às vezes eu paro na janela, acendo um cigarro e penso em como a vida poderia ser melhor se você morasse aqui. É, assim, simples assim. Verdade, já pensei nisso muitas outras vezes com muitas outras variáveis, mas com você - só com você - fica um gosto amargo na boca e o cigarro acaba mais rápido do que deveria. Não importa o quanto o dia esteja bonito, fico triste. Sempre concluo que o destino gosta de aprontar as suas, mas, mesmo assim, não me entrego. Nos conhecermos foi só o primeiro de muitos passos e a cada abraço, a cada risada em piadas que só nós entendemos, a cada despedida, essa coisa estranha que chegou sem avisar se fortalece mais e mais. Gosto de você e, sinceramente, não é porque conversamos 4hs todo dia, nem porque somos filhosdaputa, nem porque você já me enrolou durante 1 mês, nem porque sei seus segredos, acho que é muito mais simples que tudo isso, é tipo sarcástico que nem a gente, é tipo beijo, outro, tchau. Estarei sempre aqui, nem que seja praquela rapidinha.Precisava dizer antes que meu ônibus partisse que você cresceu de uma maneira inexplicável, em mim, assim como uma rosa em meio ao matagal. Eu a peguei, e cuidei, esperando ser uma pequena flor, uma simples rosa. E não algo a fixar meus olhos, como se não existisse mais nada, ninguém, problemas, distância.Bem, meu ônibus se foi e eu parti.Mas eu volto, e isso já basta.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Eu sou imatura, inexperiente sim!

Já fiz cosquinha na minha irmã só pra ela parar de chorar, já me queimei brincando com vela. Eu já fiz bola de chiclete e melequei todo o rosto, já conversei com o espelho, e até já brinquei de ser bruxo. Já quis ser astronauta, violonista, mágico, caçador e trapezista. Já me escondi atrás da cortina e esqueci os pés pra fora. Já passei trote por telefone.Já tomei banho de chuva e acabei me viciando. Já roubei beijo. Já confundi sentimentos. Peguei atalho errado e continuo andando pelo desconhecido. Já raspei o fundo da panela de arroz carreteiro, já beijei um canalha por saudade, já chorei ouvindo música no ônibus. Já tentei esquecer algumas pessoas, mas descobri que essas são as mais difíceis de esquecer. Já subi escondido no telhado pra tentar pegar estrelas, já subi em árvore pra roubar fruta, já caí da escada de bunda. Já fiz juras eternas, já escrevi no muro da escola, já chorei sentado no chão do banheiro, já fugi de casa pra sempre, e voltei no outro instante. Já corri pra não deixar alguém chorando, já fiquei sozinho no meio de mil pessoas Sentindo falta de uma só. Já vi pôr-do-sol cor-de-rosa e alaranjado, já me joguei na piscina sem vontade de voltar, já bebi uísque até sentir dormente os meus lábios, já olhei a cidade de cima e mesmo assim não encontrei meu lugar. Já senti medo do escuro, já tremi de nervoso, já quase morri de amor, mas renasci novamente pra ver o sorriso de alguém especial. Já acordei no meio da noite e fiquei com medo de levantar. Já apostei em correr descalço na rua, já gritei de felicidade, já roubei rosas num enorme jardim. Já me apaixonei e achei que era para sempre, mas sempre era um "para sempre" pela metade. Já deitei na grama de madrugada e vi a Lua virar Sol, já chorei por ver amigos partindo, mas descobri que logo chegam novos, e a vida é mesmo um ir e vir sem razão. Foram tantas coisas feitas, momentos fotografados pelas lentes da emoção, guardados num baú, chamado coração.E agora um formulário me interroga, me encosta na parede e grita: "Quem é você?". Essa pergunta ecoa no meu cérebro: quem sou eu? Será que ser "plantador de sorrisos" é uma boa experiência? Não! Talvez eles não saibam ainda colher sonhos! Agora gostaria de indagar uma pequena coisa para quem formulou esta pergunta: "Experiência? Quem a tem, se a todo momento tudo se renova?"

segunda-feira, 3 de março de 2008

Guerreira

Um guerreiro não desiste do que ama. Encontra AMOR no que faz.Muita gente nos diz o que fazer e como fazer nossas escolhas por medo que algo ruim nos aconteça. Eu mesma, seria capaz de escrever um manual com todos os meus ERROS e passaria a todas as pessoas que amo para que não sofressem minhas dores. Mas se seguisse o meu manual deixariam de viver suas próprias VIDAS.Grande parte das pessoas teme o que há por dentro sem saber que é lá que encontraram todas as respostas.Na verdade, as pessoas não são o que pensam. Elas PENSAM que são, e isso é realmente deprimente.A MORTE não é algo triste. O triste é que a maioria das pessoas não viveram nada.Ao longo da vida você vai ver que as pessoas mais difíceis de serem amadas, normalmente são as que mais precisam de amor. Portanto, tenha paciência.Raiva, ódio e violência, tudo isso é só medo. O MEDO é a raiz de todo o mal.Entenda que a VIDA é um mistério, não perca tempo tentando entendê-la.Tenha senso de HUMOR, especialmente sobre si mesmo. É a FORÇA por traz de toda atitude.Saiba que você, pode até tentar mas não vai encontrar a pessoa da sua vida aos 16 anos de idade. Então não se aborreça com relações amorosas.Entenda que conhecimento não é o mesmo que sabedoria. Sabedoria é AGIR.Toda ação tem seu preço e seu prazer. Reconhecer ambos os lados o torna realista e responsável por seus atos. Vai ver que um pouco de ação no momento e no lugar certo, pode ser bastante eficaz.Ter consciência de suas ESCOLHAS é fundamental, embora às vezes seja preciso perder a cabeça para pensar racionalmente.É necessário jogar fora todo o "lixo" que existe dentro de nós. O "lixo é tudo que nos afasta do que realmente importa...Esse momento. Aqui. Agora. A mente é um órgão de reflexão. Reage a tudo. Transforma TUDO. E se você realmente acreditar que pode acontecer, talvez aconteça.Sempre, SEMPRE há alguma coisa acontecendo. Não existem momentos comuns.Aprendendo a ser uma guerreira

sábado, 1 de março de 2008


Eu sou daquele tipo de pessoa que ouve mais do que fala, mas quando fala poupa idiotices. No entanto, sou do tipo de pessoa extremamente idiota. Que vê carneiros em nuvens, que brinca com qualquer coisa e personifica objetos (e sentimentos) imóveis. Eu sou o tipo de pessoa que não te deixaria na mão. Mas que erraria, uma vez ou duas. E no fim, acertaria da melhor forma. O tipo de pessoa que dá o melhor de si. Seja pra pregar um botão, seja pra curar o teu choro, seja pra aprender mais uma vez... O tipo de moça que tem o irritante dom de perdoar. E o incômodo dom de amar intensamente. Eu sou daquele tipo de pessoa que se emociona com pequenos gestos. Que sai do sério com apenas uma grosseria. Que já se viu em tantas posições nessa vida, que a tal biografia será compatível com o kamasutra. (AHÁ!) ... o tipo que tenta te fazer sorrir com o trocadilho mais horrível. O tipo chato de gente que sempre espera demais dos outros. Que consegue achar romantismo em qualquer porcaria. Esse tipo de gente eternamente insatisfeita. Decididamente indecisa. Insistentemente sonhadora. Assustadoramente sensível.Mas capaz, MUITO capaz.